16 de setembro de 2012

Entidade poeta...


Eu tenho uma entidade poeta
Mais poeta do que eu.
Quando a saudade latente encosta,
Ela chora poesia
Ela sangra poesia
Ela xinga poesia.
Fica roxa feito violeta
Violenta, sádica...
Paralelamente fica frágil pior que vidro
Cortante feito faca.
Essa entidade me suporta
Nunca me vira as costas
Aguenta o tranco segurando na ponta dos dedos o barranco
de palavras que não pára.


((( Camila Senna )))

Ela dança...



Cigana colorida
Coloca a tristeza retalhada de chita
Na ponta da saia
E sai...
Sai sorrindo,
Cantando,
Deixando a fênix renascer.
Não se encolhe, se espalha
Mesmo com a alma cicatrizando,
Ela persiste e dá um novo verso ao rosto.
Encanta, diz sim!
Sente cheiro de alecrim
Mesmo estando numa relva com frio e apaixonada,
Paixão daquelas febris, perigosas...
Com o coração explodindo feito estopim.
Ela dança, se permite, se encanta...
Mesmo carregada de lembranças!

Ela dança!...


((( Camila Senna ))) 




Abri portas...




No mar deixei a pressa
Nas pedras meus segredos
Pro vento abri portas, saiu meu medo.

((( Camila Senna ))) 


Fiz...


Do lenço, fiz minha coroa
Da saia, fiz meu mistério
Da pedra, fiz meu amuleto
Do sorriso, fiz minha prece
Do olhar, fiz esperança
Da mulher, fiz menina
Da alma cheia, fiz poesia
Da desilusão, fiz amor .


((( Camila Senna )))


Um pouco de muitas...

 
Um pouco de Frida Kahlo
Chacoalhando a vida
Plantando flores na avenida
Colhendo pó, dor e despedidas.

Um pouco de
Pagú
Arteira, amante do interno
Moderno da revolução,
Revoltada interrogação?

Um pouco de
Maria...
Várias Marias,
Parida com manias
Intérprete de mim mesma.

Um pouco
cigana
Sem umbanda, sem nome...
Cheia de cores, com flores na saia
Girando, gingando, cantando...

Um pouco
indecente
Singela criança
Carente com dentes
Urgente semente. 
Assusto...
Chuto o pau da barraca
Não temo ninguém e a nada
Intensa, ansiosa, corajosa...
Quando erro, boto a cara, não nego!


Sou lembrança...
Esperada do destino...


Sou dedicada às vidas que a minha deu.
Sou barulho...
Quando pensativa e muda culpo a lua, a xingo de puta.
Tantas se encaixam em mim
Tantas moram em mim...

Sou muitas,
Sou nada,
Sou estrela
Sou terra batida
Sou fera ferida
Sou abrigo
Sou o ódio
Sou o amor
Sou poeta!

Escrevo para não morrer de dor
Sou quem você quiser,
Sou quem eu quero ser.
O que bem sabia de mim,
Não está mais aqui, deixaram morrer!
((( Camila Senna )))

Justiça vã...



De tudo restou-me a poesia
Que me acolhe em dias de inópia
Desfazendo a ironia
De tudo que sinto, toco e vejo.
Esse laço puído
De sorrisos sem vestígios
De falas não sentidas
Desfaz o abraço, o riso.

Entre a guerra dos bons
Fico com a paz dos rebeldes.
Não rezo prece que me tece...
Sentimentos truculentos
Que prezam dormir ao relento.

Me perdoe essa posse
Mas nada me morde,
Nem mesmo as ordens
Dos agoniados querendo fazer justiça vã.
 ((( Camila Senna )))

...

 
Meu vento não causa dano, só balança os cabelos e arrepia a pele.
((( Camila Senna )))

Lamber...



Meu mar marrom quer lamber
Com avidez teus segredos sem medo
Sem credo, sem polidez...
Pôr nu ao meu olho despido
Sem medo do pecado sentido.


((( Camila Senna )))



Ejaculo...


Com o Olho de Hórus,
Te observo...
Ejaculo todo seu desafeto.
Feto secreto, me faço!...
Não indago a pobre caça
Desgraçada que tenta o vinho da minha taça.

((( Camila Senna )))